quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rahim Alhaj: a tradição do alaúde


O Iraque é famoso pelas guerras ali travadas nas recentes décadas. O país árabe também é conhecido por ter sido, na Antiguidade, a Mesopotâmia, berço das primeiras civilizações: sumérios, babilônios, assírios, caldeus, entre outros povos, habitaram aquele território. Muito depois, os árabes ocuparam essa terra atravessada pelos rios Tigre e Eufrates, formada por montanhas no Norte e por enormes desertos no Centro e no Sul. Lá, no século VIII, fundaram Bagdá, a cidade bela e mítica dos contos de “As Mil e Uma Noites”.  Segundo o historiador Albert Hourani, autor de "Uma História dos Povos Árabes", a capital foi a mais populosa cidade do mundo na Idade Média. Bagdá não merecia tanto sofrimento. Melhor seria se tivesse mantido os encantos do mundo lúdico da literatura.


Mas o Iraque é também notório por ser a terra de grandes músicos de alaúde, a exemplo do mestre Munir Bashir (1930-1997), que conquistou fama e prestígio em todo o mundo árabe e na Europa, executando música tradicional e erudita e combinando elementos árabes com de outras culturas, como sons indianos e flamencos. Na atualidade, um discípulo e ex-aluno de Munir Bashir, dá continuidade a esta tradição do país. Trata-se do virtuoso Rahim Alhaj .


Formado no Instituto de Música de Bagdá, onde nasceu, o artista atualmente possui cidadania norte-americana. Reside no estado do Novo México, desde o começo dos anos 90, quando fugiu do Iraque, devido à perseguição política imposta por Saddam Hussein. O alaudista militava contra o ditador sanguinário. Instrumentista e compositor, Rahim também possui graduação em literatura árabe. No exílio, antes de conquistar reconhecimento, chegou a trabalhar como atendente numa famosa rede de fast food. 


Alaúde em árabe é chamado de oud. Quando precedido de artigo, vira al oud, que culminou na palavra alaúde.  No Ocidente, este instrumento é exótico, embora seja o mais popular de cordas do Oriente Médio e tenha dado origem, indiretamente, ao violão, durante a ocupação moura na Península Ibérica.



Com sete CDs lançados, Rahim Alhaj é especialista nas improvisações solo chamadas de taqsim. A linha erudita dele se difere, por exemplo, da adotada por alaudistas também renomados na Europa como os libaneses Rabih Abou-Khalil e Marcel Khalife, que optaram seguir a corrente jazzística. Nos EUA, Rahim Alhaj já colaborou com o guitarrista Bill Frisell , com a banda de rock R.E.M, entre outros artistas renomados.

Do ilustre alaudista iraquiano recomendo a audição de quatro discos: “Friendship” (2005), que teve a participação do grupo de cordas norte-americano Sadaga Quartet, “When the Soul is Settled: Music of Iraq” (2006), registro dos taqsins também gravados por Munir Bashir, e “Home Again” (2007).  Há ainda o disco “Ancient Sounds” (2009), feito em parceria com o indiano Amjad Ali Khan (foto 3), vencedor do Grammy na categoria de melhor disco de world music tradicional.








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