A vocalista é filha de iranianos, o baterista é indiano, o baixista, francês e o pianista, alemão Os quatro se encontraram na cidade de Munique, na Alemanha. Este é o Cyminology, um dos mais interessantes grupos de jazz da atualidade. Os discos dessa banda multiétnica, especialmente os dois lançados pela ECM, “As Ney” (2009) e "Saburi" (2010), assemelham-se aos cristais mais lapidados. São necessários extremo cuidado e máxima concentração ao ouvi-los para perceber todas as nuances e os detalhes sutis e inusitados das construções musicais perpetradas pelo grupo, expoente europeu do jazz progressivo ou qualquer outro rótulo que o ouvinte desejar. Eu prefiro chamar de jazz contemporâneo, para não cair em definições subjetivas, abstratas ou anacrônicas.
Cymin Samawatie, a vocalista, cujo nome batizou o quarteto, canta em farsi (persa), língua oficial do Irã e falada, com algumas variações, em longínquos países da Ásia Central, a exemplo do Afeganistão, onde o farsi é chamado de dari. E saiba: por pertencer ao tronco indoeuropeu o farsi teoricamente é mais próximo do português do que o árabe, por exemplo. Em seus discos ela procura interpretar versos de poetas persas clássicos, a exemplo do célebre Rumi (1207 - 1293), cujos discípulos e descendentes deram origem ao sufismo.
Mesmo "incompreendida", Cymin conquistou a Alemanha e vem avançando por toda a Europa. O Cyminology também já excursionou nos Estados Unidos e em países árabes como Egito, Jordânia, Líbano e Síria. Curiosamente nunca tocou no país de origem da vocalista, o Irã. Além de Cymin, formam o grupo Benedikt Jahnel (piano), Ralf Schwarz (baixo) e Ketan Bhatti (bateria e percussão). Todos estudaram em escolas de música erudita ou de jazz.
Se formos fazer um paralelo do trabalho do Cyminology com a música brasileira talvez encontraremos algumas semelhanças com a elaboração musical desenvolvida por Mônica Salmaso junto ao grupo Pau Brasil. Isso, pelo grau de delicadeza e refinamento dos arranjos. Igualmente é possível achar ecos do disco mais erudito de Tom Jobim, "Matita Perê" (1973), que eu adoro e contemplo. Conclusões pessoais à parte, os resíduos de música brasileira no som do Cyminology são admitidos pelo grupo, no texto de apresentação da banda, no seu site oficial.
E por falar em Return to Forever, está disponível nas lojas virtuais brasileiras um DVD com o registro de uma reunião "recente" do grupo no Festival de Montreaux. Alguém já conferiu?
Mas Return to Forever é um outro papo, porque o Cyminology é completamente acústico. Não traz experimentos eletrônicos nem elétricos. Enfim, procure os dois discos do Cyminology lançados pela ECM e siga a receita presente no primeiro parágrafo.