sexta-feira, 3 de junho de 2011

Al Andaluz Project: perfeita harmonia entre culturas

 


Em 28 de abril do ano 711, o comandante Táriq-ibn-Ziyád, acompanhado de sete mil guerreiros, partiu da costa do Marrocos, atravessou o estreito, que posteriormente foi denominado Gibraltar, e invadiu a Península Ibérica. À época, aquele território europeu era dominado pelos visigodos, povo de origem germânica já convertido ao cristianismo, que quase não ofereceu resistência aos “visitantes” árabes e berberes mulçumanos, também chamados de mouros. Pois o domínio islâmico nesta parte da Europa começou em sete dias e durou mais de setecentos anos. Os árabes só foram embora em 1492, quando a última cidade sob domínio deles, Granada, foi entregue aos cristãos. 

No período de domínio mouro na Península Ibérica, floresceram a filosofia, as ciências e as artes (especialmente a música). Os árabes se estabeleceram principalmente no Sul da atual Espanha, na região da Andaluzia (Al Andaluz), que até hoje preserva este nome. Contribuíram com novos instrumentos e modos musicais. Basta lembrar do alaúde e do pandeiro. 



 Também foi um período de harmonia e tolerância entre os povos, principalmente entre árabes e judeus sefaraditas, que já habitavam a região muito antes da chegada dos mulçumanos. Os judeus - que falavam um dialeto denominado ladino (um castelhano com sotaque diferenciado) - chamavam a península de Sefarad. Daí o nome sefaradita ou sefardita, como preferir.

Pois o repertório sefaradita e o árabe andaluz são comumente resgatados por grupos contemporâneos que executam música medieval. Há seis anos, o exigente Michael Popp, diretor do grupo alemão Estampie, da cidade de Munique, especializado em música medieval, ficou impressionado com o som do grupo valenciano L’Ham de Foc, que de 1999 a 2007 desenvolveu uma pesquisa muito original que somou elementos de música medieval com sonoridades do mediterrâneo, do Oriente Médio e do folk celta espanhol. Não deu outra. Michael Popp convidou os músicos do L'Ham de Foc (aliás, notórios pela competência) para desenvolver um trabalho em parceria com o Estampie. Assim foi criado o Al Andaluz Project, que já lançou dois discos: "Deus Et Diabolus" (2007) e "Al-Maraya" (2010). Vale procurar e apreciar os dois registros.




Para dar voz ao repertório medieval dividido em canções sefaraditas, árabes e cristãs ibéricas, além das cantoras Mara Aranda, do L’Ham de Foc, e  Sigi Hausen, do Estampie, foi aproveitada a marroquina Iman Kandoussi, dona de uma impressionante voz. Confira o vídeo no qual ela interpreta “Nassam Alaina Lhawa”, canção que já tinha sido eternizada na voz da libanesa Fairouz, a mais célebre cantora do mundo árabe. Eu particularmente não canso de ver este registro. Assista também a performance de Mara Aranda interpretando “Morena”, do repertório sefaradita. Ah, em outro momento mergulharemos um pouco no trabalho do já extinto L’Ham de Foc e de outros projetos paralelos desenvolvidos pelo grupo.







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