segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Avishai Cohen renova jazz com “especiarias” do Oriente Médio



Ex-integrante da banda de Chic Corea, o baixista israelense Avishai Cohen é tido como um dos renovadores do jazz. De postura roqueira, o cara mora em Nova Iorque e funde jazz com leves pitadas da música tradicional do Oriente Médio, o que resulta num som inovador, lírico e ao mesmo tempo contundente, pontuado por paisagens inusitadas. Em 2009, após vários discos instrumentais, ele lançou o CD "Aurora”, repleto de canções.


O registro, lançado pelo sofisticado Blue Note, abandona um pouco a densidade lírica dos discos anteriores, por uma linha mais "caliente" e arábica, com o uso de alaúde em várias faixas, algo já arquitetado nos trabalhos anteriores. Em “Aurora”, Avishai canta em vários idiomas: espanhol, inglês, hebraico e ladino (dialeto dos antigos judeus hispânicos ou sefaraditas). E como ele canta bem! Agora, exatamente em fevereiro de 2011, está pintando o disco novo, "Seven Seas". Um faixa está disponível para download no site oficial do artista.

Mas a melhor fase deste extraordinário músico começa com “At Home”, de 2005, passa por “Continuo” (2006) até chegar em “Gently Disturbed” (2008). Há, ainda, o recomendadíssimo DVD “As Is... Live At Blue Note”, já distribuído em terras brasileiras, gravado ao vivo na casa de shows da Blue Note, em Nova Iorque, no qual se pode apreciar a forte pegada e a performance magistral do trio do músico judeu. Vale a busca nos sites de venda da Internet. Uma curiosidade: em Israel existe outro renomado músico homônimo, o trompetista Avishai Cohen. Por favor, não confundir.





Música Antiga com toque de modernidade


Ele grava e acompanha o Hespèrion XXI, do violista catalão Jordi Savall, e também integra o Ensemble Kapsberger, mas possui um trabalho solo de semelhante requinte. Trata-se do músico norueguês Rolf Lislevand, especializado em instrumentos de cordas renascentistas e barrocos. Toca alaúde, vilhuela e tiorba.

Apesar de ser intérprete de repertórios da Música Antiga (medieval, renascentista e barroca), o virtuoso imprime, nos discos solos, um molde cristalino como contraponto à sonoridade rústica do período. Quem ouve as gravações solo de Rolf Lislevand não fica indiferente, mergulhando de forma gradativa e profunda rumo aos tesouros da Música Antiga. É um caminho sem volta. E pode ter certeza, ele conseguiu se igualar ao alaudista Paul O'Dette em maestria.



Dos trabalhos lançados por Rolf Lislevand, recomendo “Nuove Musiche” (2006), que tem a participação da bela voz da soprano Arianna Savall (filha de Jordi Savall, que nos proporciona uma delicada viagem), e "Diminuito” (2009), a continuidade do antecessor. Ambos foram lançados pela ECM, a mais importante gravadora de música instrumental do mundo, criada no final dos anos 60, pelo alemão Manfred Eicher, cujo objetivo, segundo ele, era registrar somente o som mais belo que o silêncio. Portanto, nem pense duas vezes, saia agora à procura do som de Rolf Lislevand.





Da polca à valsa, a euforia melancólica do Afenginn



Da Dinamarca vem o Afenginn, um dos melhores grupos europeus da atualidade. Dizem por aí, que a banda formada em 2003 causa um verdadeiro vendaval por onde passa, trazendo à tona uma sonoridade quase instrumental, extremamente enérgica, criativa e de múltiplas faces. No cardápio deles, cabe, por exemplo, música klezmer, erudita, balcânica e rock n' roll.

Utilizando instrumentos de cordas, sopros, um baixo e uma bateria minimalista, o grupo possui temperamento bipolar. Passa, em segundos, da euforia extrema para a mais absoluta melancolia. Em alguns momentos, o som é carregado de energia e velocidade, lembrando as orquestras de frevo de Olinda e, de repente, afunda num pântano melódico repleto de lirismo.

Ah, eu ia esquecendo, as melodias são lindas. Não é à toa que escolhi o Afenginn para abrir o blogue. A formação conta com Kim Nyberg (bandolim), Rasmus Krøyer (clarinete), Niels Skovmand (violino), Aske Jacoby (baixo), Rune Kofoed (bateria). Dos quatro discos lançados pelo quinteto, recomendo o segundo, “Akrobakkus” (2004), e a coletânea recauchutada “Bastard Etno” (2009).