segunda-feira, 23 de maio de 2011

As raízes do deserto



E como não lembrar de Ali Farka Touré (1939 – 2006)? O guitarrista malinês foi responsável pela difusão do blues do deserto do Saara, indicando as pistas das raízes ancestrais do blues americano. Aliás, o cineasta Martin Scorsese caracterizou o trabalho de Touré como “o DNA do blues”.

Classificado com o número 76 na lista dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos da revista Rolling Stone, Ali Farka Touré faleceu, no ano de 2006, em decorrência de um câncer. Foi um dos músicos africanos mais admirados na Europa. Dizem por aí que até hoje há gente que desconhece a sua morte ou se recusa a acreditar.


Ao contrário da maioria dos músicos de prestígio do Mali, Ali Farka Touré não nasceu no seio de uma família de griots (músicos contadores de histórias, cuja sabedoria é transmitida por meio de tradição oral, de pai para filho). O artista, na verdade, descendia de uma casta de militares, mas se recusou a seguir tal carreira, optando pelo caminho da arte. Deu certo. 

 





Ao longo da carreira, Ali Farka gravou e tocou com diversos músicos de destaque, entre os quais o guitarrista norte-americano Ry Cooder (aquele especializado em slide guitar, que coordenou o Buena Vista Social Club). Inclusive, em 1994, o disco “Talking Timbuktu”, no qual Ali Farka foi acompanhado por Ry Cooder, recebeu o Grammy de melhor álbum de world music. Outro músico importante com quem colaborou foi o lendário tocador de kora (espécie de harpa africana), o conterrâneo Toumani Diabaté, com quem gravou dois de seus últimos discos, “In The Heart of The Moon” (2005) e o póstumo “Ali & Toumani” (2010). Aliás, recomendo todos os discos citados para uma atenta audição. É musica para o nosso deleite absoluto. Conheça também os trabalhos do já citado Toumani Diabaté e do igualmente malinês Ballaké Sissoko.








domingo, 1 de maio de 2011

Saudades do meu velho rock n’ roll



Tava demorando muito, mas o rock n’ roll finalmente aportou no Trilha Transe, excepcionalmente para apresentar o grupo nova iorquino Alberta Cross, cujos discos “The Thief and The Heartbreaker (2007) e “Broken Side of Time” (2009) foram os melhores biscoitos do gênero que provei nos últimos tempos. Tenho alma de roqueiro e não poderia esconder isso por muito tempo.  Enfim, sons de natureza elétrica também são bem-vindos no Trilha Transe.


Formado pelo vocalista sueco Petter Ericson Stakee e pelo baixista britânico Terry Wolfers, além de Sam Kearney (guitarra), Alec Higgins (teclados) e Austin Beede (bateria e percussão), que se encontraram em Nova Iorque, o Alberta Cross faz folk rock, com pitadas de blues e soul. É rock americano dos bons com eco do final dos anos 60 e começo dos 70. Carrega resquícios de Allman Brothers Band, The Band, Rolling Stones (dos tempos de Mick Taylor) e Neil Young. Só para citar alguns. Mas o grupo nos faz matar saudades também dos anos 90, de um tempo repleto de bandas legais como Grant Lee Buffalo, Blind Melon, Soundgarden, Soul Asylum, Dinosaur Jr., Buffalo Tom, Afghan Whigs e Nirvana. Fisicamente o vocalista lembra Kurt Cobain. Se tivesse surgido há 15 anos, aposto que o Alberta Cross faria um sucesso estrondoso, mas os tempos são outros e hoje em dia o rock anda meio esquecido ou escondido. Virou música de gente de alma retrô, que teima em nadar contra a corrente. E entre as bandas contemporâneas do mesmo estilo, garanto que Alberta Cross soa melhor que o festejado Fleet Foxes, de Seattle.


O primeiro disco, o EP “The Thief and The Heartbreaker (2007) que apresenta sete ótimas músicas, possui uma produção mais tradicional, com timbres vintage, semi-acústicos. “Broken Side of Time” soa mais modernoso, cheio de efeitos de guitarra, ou seja, é uma ponte entre o passado e o presente. Algumas músicas do primeiro ganharam novos arranjos no segundo, sem perder a qualidade. Para quem procura rock n’ roll de raiz, na cena atual, o Alberta Cross é uma ótima pedida. E para a degustação, um momento ao vivo da banda executando a música "Taking Control", uma das mais viscerais do repertório do grupo.