domingo, 26 de junho de 2011

Ivan Vilela: a alma universal da viola caipira



O mineiro Ivan Vilela (fotos), ao lado dos violeiros Paulo Freire (São Paulo), Ricardo Matsuda (São Paulo) e Rogério Gulin (Paraná), é um dos responsáveis, na atualidade, pela valorização da viola caipira fora do contexto da música rural brasileira. Eles inseriram – cada qual a seu modo – este instrumento nos palcos da MPB, da música étnica, da música instrumental e da música erudita. Isso, sem perder a identidade tradicional da viola.    




E vale lembrar: Ivan, Paulo e Ricardo já fizeram parte do Anima, em diferentes momentos. O grupo de Campinas dialoga com a música medieval européia e com o rico cancioneiro de tradição oral de diferentes regiões do Brasil. Por sua vez, Rogério é integrante do paranaense Terra Sonora, que realiza uma minuciosa e original pesquisa da música tradicional de países de todos os continentes. Posteriormente, vou escrever sobre este grupo, que já possui cinco ótimos discos lançados.   

Com formação acadêmica, Ivan Vilela (fotos) é um dos principais nomes da música instrumental brasileira, com impecáveis trabalhos lançados. Dele, eu recomendo pelo menos dois discos: o premiado “Paisagens” (1999) e o quase solo “Dez Cordas” (2007). No primeiro, Ivan Vilela acompanhado de diversos músicos incursiona, por meio de composições autorais, pelas sonoridades do interior do Brasil, com molde universal e sofisticado. No outro, ele interpreta com arranjos originais temas conhecidos de diversos compositores brasileiros, principalmente da MPB, a exemplo de Chico Buarque, Flávio Venturini, Almir Sater e Edu Lobo. Há ainda duas músicas dos Beatles: “Eleanor Rigby” e “Whyle My Guitar Gently Weeps”. Procure já. Ouça também a coletânea  "Violeiros do Brasil", lançada pelo selo Núcleo Contemporâneo há mais de uma década, que reuniu peças interpretadas ao vivo por diversos craques da viola caipira, entre os quais Ivan Vilela, Paulo Freire, Almir Sater, Braz da Viola e Zé Coco Riachão.  


 


Há mais ou menos três anos Ivan se apresentou em São Luís, ao lado da cantora Ná Ozzetti. Eu tive o privilégio de assistir a esta apresentação, que está guardada confortavelmente na memória.






sexta-feira, 3 de junho de 2011

Al Andaluz Project: perfeita harmonia entre culturas

 


Em 28 de abril do ano 711, o comandante Táriq-ibn-Ziyád, acompanhado de sete mil guerreiros, partiu da costa do Marrocos, atravessou o estreito, que posteriormente foi denominado Gibraltar, e invadiu a Península Ibérica. À época, aquele território europeu era dominado pelos visigodos, povo de origem germânica já convertido ao cristianismo, que quase não ofereceu resistência aos “visitantes” árabes e berberes mulçumanos, também chamados de mouros. Pois o domínio islâmico nesta parte da Europa começou em sete dias e durou mais de setecentos anos. Os árabes só foram embora em 1492, quando a última cidade sob domínio deles, Granada, foi entregue aos cristãos. 

No período de domínio mouro na Península Ibérica, floresceram a filosofia, as ciências e as artes (especialmente a música). Os árabes se estabeleceram principalmente no Sul da atual Espanha, na região da Andaluzia (Al Andaluz), que até hoje preserva este nome. Contribuíram com novos instrumentos e modos musicais. Basta lembrar do alaúde e do pandeiro. 



 Também foi um período de harmonia e tolerância entre os povos, principalmente entre árabes e judeus sefaraditas, que já habitavam a região muito antes da chegada dos mulçumanos. Os judeus - que falavam um dialeto denominado ladino (um castelhano com sotaque diferenciado) - chamavam a península de Sefarad. Daí o nome sefaradita ou sefardita, como preferir.

Pois o repertório sefaradita e o árabe andaluz são comumente resgatados por grupos contemporâneos que executam música medieval. Há seis anos, o exigente Michael Popp, diretor do grupo alemão Estampie, da cidade de Munique, especializado em música medieval, ficou impressionado com o som do grupo valenciano L’Ham de Foc, que de 1999 a 2007 desenvolveu uma pesquisa muito original que somou elementos de música medieval com sonoridades do mediterrâneo, do Oriente Médio e do folk celta espanhol. Não deu outra. Michael Popp convidou os músicos do L'Ham de Foc (aliás, notórios pela competência) para desenvolver um trabalho em parceria com o Estampie. Assim foi criado o Al Andaluz Project, que já lançou dois discos: "Deus Et Diabolus" (2007) e "Al-Maraya" (2010). Vale procurar e apreciar os dois registros.




Para dar voz ao repertório medieval dividido em canções sefaraditas, árabes e cristãs ibéricas, além das cantoras Mara Aranda, do L’Ham de Foc, e  Sigi Hausen, do Estampie, foi aproveitada a marroquina Iman Kandoussi, dona de uma impressionante voz. Confira o vídeo no qual ela interpreta “Nassam Alaina Lhawa”, canção que já tinha sido eternizada na voz da libanesa Fairouz, a mais célebre cantora do mundo árabe. Eu particularmente não canso de ver este registro. Assista também a performance de Mara Aranda interpretando “Morena”, do repertório sefaradita. Ah, em outro momento mergulharemos um pouco no trabalho do já extinto L’Ham de Foc e de outros projetos paralelos desenvolvidos pelo grupo.