segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Uma volta ao mundo por meio da música

Numa tarde junina de 2003, estava passeando pelo Centro Histórico de São Luís quando topei com o músico maranhense Itaércio Rocha, radicado há anos em Curitiba, integrante do grupo Mundaréu, lá do Paraná. Entre um papo e outro, ele me presenteou com os dois primeiros discos do Terra Sonora (o CD de 1997 e “Continentes” gravado em 2001), um grupo também das terras de Paulo Leminski, que recria com impressionante primazia canções e melodias instrumentais de várias partes do mundo. Vou ser eternamente grato por esta cortesia.


O Terra Sonora produz um som único no Brasil, sem precedentes no país. Surgido em 1994, é integrado por músicos de formação erudita (pelo menos, a maioria), responsáveis pela elaboração de arranjos originais para temas étnicos e tradicionais de todos os continentes do planeta. É um trabalho minucioso. Rústico, porém elaborado com requinte. Uma preciosidade. Nos seus cinco discos, há músicas de 67 regiões do mundo, incluindo países como Egito, Romênia, Noruega, China, Colômbia, Moldávia, Grécia, Irlanda, Zimbábue, Butão, Marrocos, Mongólia, Armênia, Camboja, Haiti, Turquia e Moçambique. A combinação de instrumentos também é singular: viola caipira, derbak, violino, flautas, entre outros. São diversas referências musicais num único grupo em perfeita harmonia.




A pesquisa musical é de responsabilidade de Plínio Silva, flautista especializado em Música Antiga (medieval, renascentista e barroca). Integra também o Terra Sonora gente como o famoso violeiro Rogério Gulin e a vocalista Liane Guariente, considerada uma das melhores vozes de Curitiba. Aliás, o trabalho vocal é primoroso, um componente especial tanto pela pesquisa fonética de diversas línguas, quanto pelas diferentes técnicas usadas para cada canção.


No repertório, também estão presentes elementos tradicionais brasileiros, como modas de viola, a exemplo das composições de Rogério Gulin e Roberto Corrêa, sambas de roda da Bahia e temas de tradição nordestina, além de composições do lendário José Eduardo Gramani, idealizador e fundador do Ânima e diretor musical do primeiro disco do Terra Sonora. E por falar nisso, os discos do grupo têm produção caprichada. Todos vêm com fotos e livreto explicativo, algo semelhante ao padrão dos trabalhos do Ânima. E mais: recomendo a audição de todos os CDs. Inclusive, do quase solo de Rogério Gulin, “Orvalho”, lançado em 2009, no qual é acompanhado pelo Terra Sonora.



É importante saber que existe muita vida musical inteligente no Brasil, além das obviedades presentes na mídia. A melhor e pior música convivem no país em condições desiguais. Mas vamos deixar de lamentações. E como aperitivo, o Trilha Transe posta um tema do violeiro Rogério Gulin acompanhado pelo Terra Sonora, é claro, no lançamento de “Orvalho”.





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