domingo, 8 de janeiro de 2012

Por todas as manhãs do mundo



Na primeira postagem de 2012, o Trilha Transe presta homenagem ao mestre catalão da viola de gamba Jordi Savall, o nome mais importante da Música Antiga (medieval, renascentista e barroca) na atualidade. O gambista ou violista dirige e integra três grupos ao mesmo tempo: Hespèrion XXI (foto 3), Le Concert des Nations e La Capella Reial de Catalunya, responsáveis por algumas das mais primorosas e profundas interpretações da música dos referidos períodos.





No dia 23 de novembro de 2011, Jordi Savall perdeu sua esposa, a soprano Montserrat Figueras (1942 - 2011), que faleceu, em Barcelona, vitimada por um câncer. A morte da cantora lírica deixou uma grande lacuna no campo da Música Antiga. Ela integrava os três grupos criados pelo marido. Era, portanto, o complemento feminino do mestre. Sem o trabalho de Savall e Figueras, a Música Antiga, atualmente, não teria o mesmo alcance.





Enquanto o Hespèrion XXI interpreta, principalmente, repertórios dos períodos medieval e renascentista, o Le Concert des Nations é um grupo de câmara dedicado ao universo barroco. Como o próprio nome indica, La Capella Reial de Catalunya é um grupo vocal, que serve, especialmente, de complemento ao trabalho das formações anteriores.

Com cópias de instrumentos de época, o Hespèrion XXI e Le Concert des Nations fazem um rico passeio pela Música Antiga. São incontáveis discos produzidos, principalmente, nas décadas de 90 e 2000. Além da interpretação de obras inteiras de mestres do Barroco, a exemplo de Lully, Couperin, Marin Marais, Sainte Colombe, Henry Purcell, Samuel Scheidt e Bach, há inúmeras coletâneas com peças de Diego Ortiz, Antonio de Cabezon, Corelli, Pachebell, entre outros.




Ultimamente, Jordi Savall tem enveredado pela música do Oriente com a colaboração de músicos de Israel, Turquia, Afeganistão e Marrocos. É necessário destacar ainda os discos dedicados ao repertório dos judeus sefaraditas, que viveram na Península Ibérica, especialmente durante a ocupação árabe, sendo expulsos pelo reis cristãos da Espanha, em 1492, e de Portugal em 1496.  


Todos que apreciam boa música deveriam conhecer o trabalho de Jordi Savall. Os discos em formato de CD podem ser encontrados na gravadora de propriedade dele, Alia Vox, ou em livrarias brasileiras especializadas em arte de excelência. Bem abaixo, em destaque, estão as capas de alguns discos do Hespèrion XXI e do Le Concert des Nations, que aprecio.


O FILME



Em meados dos anos 90, assisti ao belo filme francês "Todas as Manhãs do Mundo" (Tous les Matins du Monde), de Alain Corneau (1943-2010), baseado no livro de Pascal Quignard, e fiquei impressionado com a história contada, a fotografia e a trilha sonora. A produção narra a suposta convivência entre os compositores barrocos franceses Sainte Colombe (1640 – 1700) e Marin Marais (1656 – 1728), mestre e discípulo da viola de gamba, respectivamente. Ao adquirir a primeira edição da revista Bravo, datada de outubro de 1997, tomei conhecimento que o intérprete das peças presentes no filme - de compositores como Lully e Couperin, além de Marin Marais e Sainte Colombe - era o gambista Jordi Savall e que a sublime trilha tinha vendido mais de 500 mil cópias em todo o mundo, um marco para a Música Antiga.




E por falar nisso, em 2012, o longa "Todas as Manhãs do Mundo" finalmente será lançado em DVD no Brasil. O mérito é da distribuidora Lume, de propriedade do maranhense Frederico Machado. Aguardem. No precioso trabalho, Marin Marais é interpretado por Guillaume Depardieu (jovem) e Gerard Depardieu (adulto), filho e pai na vida real. Vestiu a alma do rigoroso Monsieur de Sainte Colombe o ator Jean Pierre Marielle (foto 7). Um detalhe: Guillaume Depardieu (fotos 5 e 6) morreu em 2008 aos 37 anos, depois de uma vida conturbada devido ao abuso de álcool e drogas, dizem.



E voltando à primeira Bravo (que guardo até hoje), a edição trazia uma memorável entrevista com Jordi Savall, que à época estava prestes a se apresentar no Brasil. Nela, ele afirmava que a música anterior a 1800 era uma forma de medicina e matemática. Nunca esqueci desta reflexão.

















7 comentários:

  1. Eduardo,

    sempre que quero ter alguma nova sobre música antiga, dou uma volta por aqui! fazia um tempinho que eu não entrava...bom saber que ainda estás postando...não sei se te interessa, mas descobri um selo inglês que tem lançado coisas mais diferentes e mais experimentais de... música brasleira (!), coisas que nunca foram lançadas em cd, me parece. Lançaram o Paebiiru, do Zé Ramalho e Lula Cortes! Lançaram também um disco dos anos 70 de um músico pernambucano chamado Flaviola, um belo disco, que mistura música tradicional nordestina com experimentações...não sei, talvez tu te interesses...o selo se chama mister bongo, nao sei se tu conheces...
    abraço
    Luís Inácio

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  2. Bacana Luís Inácio.

    Já ouvi superficialmente os dois discos que você citou. Vou procurá-los novamente, para uma audição mais aprofundada. Acho que você escreveu sobre um deles, não foi?

    Quanto às postagens, vou continuar sem pressa até esgotar os principais músicos e grupos que pesquisei. Só escrevo sobre o que gosto e o que já ouvi bastante. A ideia é que Trilha Transe seja um espaço de consulta.

    Valeu a dica e obrigado pela visita,

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Valeu Eduardo.
    Ploy Vaul Cat manda lembranças.

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  5. Todas as manhãs do mundo? Lançado em DVD no Brasil? Deus te ouça!
    Wellington Mendes

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  6. Pois é, o proprietário da distribuidora Lume disse, numa conversa informal, que o lançaria. Em 2012, não saiu. Tomara que em 2013 ele cumpra a promessa.

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